segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Distrações

Lilly tenta se concentrar nas amenidades cotidianas. É uma tarefa difícil por que o seu mundo pessoal está caindo e tudo que ela deseja é refazer esses pedaços que também se partem dentro dela. O trabalho, o tão sonhado trabalho. Nem isso trazia grandes expectativas para a rotina dela. Lilly era uma arquiteta bem sucedida, sócia em um escritório importante e desenvolvia um trabalho muito especial para ela. Desde criança, ela pensava em criar lares para as pessoas; captar o que elas desejam como o seu ambiente feliz e reverter isso para o dia-a-dia delas. Mas nem isso a empolgava mais. Sua criatividade parecia esgotada e alheia, ela nem podia imaginar como retomar suas idéias geniais que a fizeram tão reconhecida em seu meio. O trabalho se tornou...maçante. Igual. Sem cor. Talvez nublado e trovejante. Um dia de frio e chuva. Sem graça. As pessoas notavam que Lilly estava distante. No auge de seus 26 anos, a garota agora ruiva esvoaçante, de suaves sardas, e olhos amendoados, cheia de sorrisos e simpatia, se escondia em olheiras e olhos irritáveis de tão vermelhos, que cintilavam com o tom de seus cabelos. Ela estava sem brilho, ofuscada. Seus sorrisos eram tortos e infelizes. E ninguém ousava estender este nítido sofrimento, preferiam deixá-la em sua tortura particular, dar-lhe privacidade. E era exatamente disso que Lilly precisava. Se por um lado, o trabalho não lhe distraía mais, por outro lado seu refúgio eram as pesquisas históricas. Sobre temas avulsos, nada específico. Uma hora buscava informações sobre a história da arte e, no meio do caminho, se deparava pesquisando algum filósofo, matemático ou físico importante, apenas para se entreter em histórias. Era uma fuga de sua própria narrativa, infeliz demais até para ela querer suportar. Assim, Lilly ia se concentrando em temas antigos, longínquos e irreais demais para que a vida fosse mais suportável. Lilly não sabia o que a aguardava em meio a tantos contos.

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