quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Outra

Mas por que outra? Ah, isso ela podia compreender. Ela ainda sente vibrar em seus ouvidos as palavras dele meses antes.

- Eu me sinto infeliz – Mike finalmente confessa.
- Mas por quê? O que eu fiz? – Lilly se desespera.
- Eu não sei. Deve ser eu. É comigo, não com você. Me dá um tempo, ok? – ele suplica.
- Nãooo...eu preciso entender. Eu quero te fazer feliz. Mas você precisa me dizer como. – ela implora.
E cai o silêncio entre eles. Mais uma vez. Ao longo deste ano.
Suas súbitas mudanças de humor. Como isso é massacrante. Parece uma vingança de Mike pelo simples fato de Lilly existir. Mais uma razão para justificar seu pedido de morte. Algumas vezes, ele age docemente, carinhosamente, e intensamente. O homem que ela escolheu viver pelo resto da vida. Em outras, o desgaste fica nítido, a aspereza em sua voz, a ausência de gestos e reações, a completa e total indiferença pela presença dela. Ela conhece isso, sabe o seu significado. Sinaliza o óbvio. Outra.
Quando estão juntos em casa, ele passa a maior parte do tempo dormindo. Ou ela está ocupada e ele entretido com o futebol na televisão. A distância parece ressoar ecos entre eles na pequena casa que escolheram para viver. É muito típico que ele passe horas e horas fora quando ela está em casa. “Não tenho por que ficar trancado aqui dentro”, se justifica. E ela pensa “você fala de quatro paredes ou dessa relação?”. E quando ela não está, ele se sente absolutamente à vontade. Desfruta completamente da sua ausência. Mas os pensamentos dela voam...”Será que Mike está mesmo em casa?”; “E se está, será que tem companhia?”; “Ele teria coragem de trazê-la para nossa cama?”; “Será que eu a conheço? O quanto melhor que eu ela será?”;. A sombra da dúvida paira em seus pensamentos. Não há um dia em que ela não pense no pior. As evidências estão lá, mas...Lilly não quer dar-lhes crédito. Prefere pensar que é sua imaginação, gritando ensurdecedoramente, mais uma vez. Querendo que ela enxergue o irreal. Mas a cada dia, ou melhor, a cada palavra, os fantasmas se parecem mais concretos...

Nenhum comentário:

Postar um comentário