segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A percepção

Aquele casamento pareceu fadado a ser o fim dela. A cada dia, uma nova pontada de dor inundava seu peito. Cada vez que Lilly olhava ao redor e se deparava com um casal apaixonado, um estrondo lancinante e ardente surgia dentro de si. Ela não podia acreditar. Tantos anos de paixão transbordando entre eles que chegou ao marasmo total. E em poucos meses. Absolutamente inacreditável. Ela tentava achar uma explicação razoável e todas elas originadas de alguma atitude imperdoável dela mesma. “Será que foi a nova cor do meu cabelo?” “Aquele dia que atendi o telefonema da minha amiga, às 22h, de um sábado, será que despertou alguma suspeita da minha bucólica fidelidade?” ou “Eu não deveria ter dito o quanto o personagem daquele filme é mais romântico do que ele”. Tantas banalidades. Não pareciam suficientes para justificar esse fim. Ela chora baixinho, noite após noite. Na expectativa de ser abandonada mais uma vez. Ela sente que não pode suportar uma nova separação. A vida já lhe arrancou coisas demais e estava na hora disso parar. Mas o que ela poderia fazer se havia algo terrivelmente errado em suas escolhas, em suas tentativas? Se toda vez que ela acreditava ser o momento da felicidade, um trovão arruínava seus desejos, e trazia de volta à dura realidade. Sim, ela não foi feita para ser feliz. Ela leva cinco minutos para entender o que precisa. Se ela não existisse, então como seria? Não haveria abandonos.


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