terça-feira, 17 de novembro de 2009

O fundamento

É preciso dizer que eram um casal apaixonado como poucos. Uma devoção intensa brilhava dos olhos de Mike quando Lilly estava perto. Ela era seu adorno de cristal que deveria ser preservado, custe o que custar. Nem toda demonstração de afeto era suficiente para expressar a intensidade do que ele sentia. Ela se assustava com tudo isso. Por vezes sentia medo. Mas queria tentar, sentia que devia. Que era justo então que, desta vez, ela fosse a coadjuvante. Que ela fosse a agente passiva da sua história, pelo menos uma vez. E apenas aceitasse de bom grado tudo que estava vivendo. Parecia mágico e irreal. Ela não sabia até quando poderia retribuir. Estava acostumada com uma situação inversa, dela se entregar plenamente às paixões e ser fatalmente preterida. Tudo era novo. E absoluto. E delicioso. A consequência esperada era aquela: o casamento. Parecia o certo a fazer. Não? Agora não parece mais. Mas de qualquer forma, tudo foi tomando uma nova forma. Se modificando. Indo para rumos que ela não conseguia tomar as rédeas e recuperar do ponto inicial. Simplesmente acontecendo diante de seus olhos. O vívido incêndio daquela relação chegou a leves brasas, que se apagavam com suaves brisas de verão. Ela podia apostar que havia outra. Em algum lugar. De alguma maneira. Outra que tivesse despertado em Mike tudo aquilo que ele sentia antes por ela. Isso, sim, parecia perfeitamente possível. Afinal, ela não era nada interessante. Ninguém tinha amado-a antes, não daquele jeito, então é provável que ela não fosse boa mesmo. E ela já tinha se conformado, mas ele veio, e mudou tudo aquilo dentro dela. Fez ela se sentir...especial...Ah, mas isso era uma grande piada, impossível de ser real. E agora ela pode ver. Então era isso. Se resumia nisso. Em um grande circo em que ela era a boba da corte, o grande nariz de palhaço não podia esconder a repugnância que ela sentia de si mesma por acreditar que merecia viver o amor. A solidão já estava predestinada, antes mesmo de se concretizar. Caia-lhe bem...era...natural. De uma maneira louca e estranha, mas era identificável, palpável.



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