segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Reviravolta

A cada dia, sua relação ficava mais insustentável. Nem ela sabia mais por que insistia neste casamento destruído. Mike era um belo homem, ela sempre admitia para si mesma. Alto, louro, olhos cor de mel, e um corpo naturalmente atlético, esculpido pelos deuses do Olimpo. Uma ofensa à população masculina. Era um promotor de justiça, muito respeitado por sua impecável reputação. Algo em seus olhos passavam confiança e segurança ao júri e ao juiz, ganhando sempre causas importantes em sua carreira. Sua expressão sempre foi a de um garotão, mas em seus 26 anos, Mike parecia cada vez mais cansado e com rugas que denotavam sua agonia. Ás vezes, parecia que nem ele podia entender o rumo de sua vida e de suas escolhas. Mas ele não permitia que Lilly olhasse muito em seus olhos; sempre desviava, com alguma desculpa sem sentido e que, a essa altura, ela nem questionava mais. Ela não conseguia entender nada daquilo. Qual era a verdade dos fatos.

Uma certa noite, voltando de seu curso de pós graduação – mais uma tentativa frustrada de re-equilibrar sua mente vazia -, o carro de Lilly pára abruptamente em meio a uma estrada escura e um tanto deserta devido ao horário. De um lado, um posto de gasolina, sem ninguém à vista. Do outro lado, algo como um clube de campo, totalmente no breu da noite. Ela se desespera, desce do carro para ver o que tinha acontecido. Droga, ela nunca se interessou em aprender onde ficava a bomba de gasolina, como sequer ela descobriria a causa daquela pane. Tentou manter a calma. Lembrou do celular sem bateria. Droga, droga, droga. Nenhum orelhão à vista. Ao olhar ao redor pela milésima vez nos últimos trinta segundos, Lilly se depara com um jovem sentado em frente ao clube. Muito quieto. Totalmente imóvel. Ela sabia que era um rapaz devido aos cabelos escuros, levemente encaracolados, semelhante aos fios de um anjo. Ela se preocupa e fica diante de um dilema: vai até ele ou aguarda um socorro? Pedir uma carona parecia uma solução mais provável, mesmo que a levasse à morte. Mas falar com o rapaz tinha esse mesmo risco, afinal, tudo que ela podia ver é que ele estava vestido de preto, com um casaco que cobria suas pernas. Bingo! Essa era sua chance.

Sem pestanejar, Lilly vai ao encontro do rapaz
- Olá...er, boa noite...desculpa incomodar o seu..digo, estou com meu carro quebrado e será que... – tentando improvisar um discurso descontraído.
- ...Boa noite, senhora – ressoa a voz musical vinda do jovem.
Lilly estanca no chão. Ela nunca ouviu uma voz tão linda. Nem os melhores cantores, os melhores tenores, chegariam aos pés daquela melodia suave e precisa.
- Sinto muito, devo tê-la assustado aqui parado. Há algo em que eu possa ajudar? – se adianta gentilmente, levantando-se em um salto gracioso e rápido demais para um humano.
- Er...claro que não. Sem dúvida, existe um bom motivo para você estar no meio da estrada, a essa hora da noite, sentado em frente a um clube de campo, que obviamente tem muito verde, florestas, enfim... – Lilly começa a tagarelar, com uma ponta de histeria em sua voz, respondendo a primeira parte da frase dele. Tudo era inacreditável. Era a pessoa mais linda que ela já viu. Olhos profundamente negros, traços firmes, maxilar um tanto quadrado, covinhas no queixo que o faziam parecer um anjo. Assustador.
O jovem sorri – Eu posso compreender sua reação. Mas então, o que posso fazer por você? – responde contentemente.
Leve minha alma, meu corpo, meu coração despedaçado.
– Só preciso pedir socorro, o meu carro não quer funcionar e estou sem celular. Se puder me emprestar o seu para eu chamar o guincho e avisar meu marido, eu ficaria muito agradecida.
- Claro, pode ligar. Você acha que pode orientar alguém em como chegar aqui?
- Sabe, eu não passo por aqui com frequência. Começo a achar que me perdi – por alguma razão estranha, Lilly se sente à vontade e faz revelações que jamais devem ser feitas a estranhos quando se está perdida.
- Eu imagino que sim. Digam a ele para vir pela estrada principal e pegar o primeiro desvio de uma estrada de terra. Estamos há uns 15 km e o fim deste trecho é logo ali na frente. Basta eles seguirem em frente e chegarão até aqui. Mas deixa eu me apresentar, meu nome é Nicholas Guelt.
- Lilly Vengel...prazer.
- O prazer é todo meu. Mas, por favor, faça suas ligações, é perigoso estar aqui a essa hora.
Lilly se sobressalta. Estava admirando aquele homem lindo, com suas feições perfeitas, seu corpo escultural. – Ah, sim, claro. Me dê um minuto, sim? – Ele assente e ela se afasta. Lilly percebe que algo mudou em sua vida naquele momento.

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